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Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Wednesday, June 26, 2013

V de Vingança e a tomada das ruas

A esta altura do campeonato só mesmo um ET poderia desconhecer o que está acontecendo no Brasil. Finalmente a massa ocupou as ruas e grita suas reinvindicações a plenos pulmões. Chega de marasmo e obedecer tudo como cordeirinhos.

Estive participando das manifestações e digo que dá de tudo no bolo de gente. Pessoas realmente bem intecionadas com suas mensagens em cartazes e gritos , grupos oportunistas querendo pegar uma casquinha do momento até, realmente, gangues organizadas para depredar e roubar.

No meio de tudo isto, um personagem, destaca-se. É o Anonymous, personagem do filme “V de Vingança” (que por sua vez foi baseado numa HQ), que, como diz seu nome, anonimamente divulga sua mensagem de rebeldia e assim estimula o povo a tomar as ruas e mudar a ordem vigente.

O filme é de 2006 e seu recado é clássico. Vem exatamente na linha da construção de respostas revolucionárias para mudar o status, mudar uma sociedade distópica.

Na época me caiu os butiá a cena que o V (Hugo Weaving) dança com a Evey Hammond (Natalie Portman), ao som de “I´m a Bird Girl Now”, do Antony and the Johnsons, um grupo que amo.

Fiquei tao impressionado que peguei o clipe e legendei.

Como agora o V voltou a baila, divulgo novamente esta beleza.

A Zero Hora publicou hoje uma materia sobre o Anonymous Brasil.

Eu realmente não tenho opinião formada a respeito do assunto, porém minha tendência é desconfiar de tudo aquilo que se oculta atrás de máscaras.

Reproduzo a matéria abaixo.

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A máscara do protesto

Com inúmeras bandeiras de reivindicações, as multidões que desfilam pelas ruas do país se identificaram com uma face. A de um grupo que age no anonimato na internet e arrebata seguidores com um discurso crítico.


OWikileaks ganhou um parceiro de peso em vazamentos de segredos na internet. É o Anonymous, que é um grupo e também pode ser ninguém. Ele não tem rosto, mas sua máscara virou viral nos protestos que galvanizam o país. Ele só se comunica pelo YouTube e Facebook, está cheio de cópias falsas pelas ruas e nem mesmo se sabe se é um sujeito, um evento ou um holograma. Tudo que se conhece dele é que imita a fisionomia de Guy Fawkes, o herói do filme V de Vingança. Baseado num personagem real, um rebelde vingativo anti-monarquista, é a inspiração do grupo de ciberativistas que quer mudar à força a política no planeta – e no Brasil.

Para uns, o Anonymous é uma organização direitista disfarçada e preocupada em atacar a esquerda no poder e o governo Dilma em particular. É verdade que não tem economizado em críticas à presidente brasileira. Mas os conservadores também têm queixas: o Anonymous, para eles, é a figura do anarquismo e do caos, pregando a desordem nas ruas e partilha de lucros de alguns empresários, como os do transporte coletivo. O certo é que, nas passeatas, o mascarado com pseudônimo virou cult entre crianças e velhos, que desfilam com sua face plástica e o bigodinho de mosqueteiro, e seus argumentos estão na boca de jovens que estão indo às ruas.

A figura é simpática, mas não inofensiva. Isso porque o Anonymous bisbilhota e usa táticas de hacker, na tentativa de divulgar suas causas. O site anonymousbrasil.com divulgou, semana passada, dados privados do governador do Rio, Sérgio Cabral, do secretário da Segurança Pública (o gaúcho José Mariano Beltrame), do polêmico pastor e deputado federal Marco Feliciano e dos jogadores Ronaldo Nazário e Pelé. Exibiu telefones, CPFs, listas de empresas, dados de faturamento. Em outros posts, expôs relatórios confidenciais das PMs brasileiras, incluindo e-mails pessoais de oficiais, pirateados, locais de blitze, contabilização de despesas. Quando um homem atropelou manifestantes em Ribeirão Preto, há pouco mais de uma semana, o Anonymous logo postou informações pessoais sobre ele no seu site. A tática em tudo imita o Wikileaks do proscrito Julian Assange, e o Anonymous faz questão de confirmar isso.

O que é o Anonymous? Quem são seus integrantes? Zero Hora perguntou isso aos organizadores do site, mas não obteve resposta. É certo que não se trata de um simples grupo de amadores a improvisar uma revolta via mídias sociais. Foi em junho de 2011 que o primeiro vídeo dessa organização, com nítida inspiração anarquista, vazou no YouTube, em meio a protestos na Europa. É coisa de profissional, tem qualidade publicitária. Abre com uma vinheta caprichada, um globo, sugerindo a universalidade do grupo. Logo depois vem o emblema da ONU, encimado por um ponto de interrogação. Surge finalmente na tela o protagonista, um mascarado, com voz modulada, ao estilo locutor de rádio, masterizada e dublada no idioma do público-ouvinte: português, quando no Brasil, ou inglês com tradução.

Especialista define como “o rosto da manifestação”

A voz do mascarado é séria, às vezes feminina, hipnótica, lembra algo do filme 1984 e do Grande Irmão (Big Brother) descrito por George Orwell, aquele que controla a tudo e a todos. Mas a mensagem é o oposto disso: prega descontrole, rebelião, ao estilo “contra tudo que está aí”. O homem sem rosto e com linguajar refinado fala que um dia acordou e decidiu lutar. Seu campo de batalha é o ciberespaço. Seu recado é para “multidões que não têm voz, oprimidas pelos detentores de poderes públicos e privados”. Slogans que lembram os anarquistas do século 19, mas impulsionados por tecnologia do século 21.
Especialista e estudioso de mídias sociais, o professor na Unisinos Felipe de Oliveira explica que a falta de identidade é proposital no Anonymous, para poder realizar ações clandestinas, como a invasão de sites governamentais ou privados. O que espanta o pesquisador é que o mascarado anônimo imprimiu sua cara nos protestos, literalmente. Organizado dentro da internet e dali saindo para as ruas, o grupo é sucesso de mídia (1,6 milhão de acessos numa resposta ao colunista global Arnaldo Jabor).
– É o rosto dessa mobilização, gostem ou não – diz Oliveira.
humberto.trezzi@zerohora.com.br

Sobram críticas a todos

Slogans não faltam ao Anonymous. No Brasil, a organização prega um levante popular “para acabar com a farra de imoralidade que vivemos em nosso país e em outras partes do mundo”. Os ciberativistas dizem que seus motivos são tão válidos como os da Turquia... porque o Brasil não tem escolas em número suficiente, hospitais, postos de saúde, boas estradas, transporte.


– Enquanto isso, o governo gasta milhões com estádios de futebol e nas Olimpíadas. Importar médicos de outros países é fácil... quero ver formar os seus e zelar para que eles não saiam do país. Nós temos motivos, sim, para lutar. E é por muito mais que R$ 0,20 – diz o mascarado, em um dos vídeos.


Entre as causas defendidas está o apoio a que promotores continuem investigando e a que reclama da taxação excessiva a que os brasileiros são submetidos.


– A PEC 37 (rejeitada ontem pelos deputados) é outro absurdo e terá sua vez nos protestos. E não venha dizer que somos revoltosos de classe média. Pagamos mais impostos que qualquer outro país do mundo e temos em retorno a pior educação e saúde... vocês realmente achavam que essa apatia do povo seria eterna? Merecemos mais que isso. Vamos fazer o que nossos pais não conseguiram na década de 80, vamos recriar a democracia. E mostrar que as autoridades estão aqui para nos servir e não para nos explorar. Sua hora vai chegar – avisa o mascarado, com voz metálica.

Tuesday, June 11, 2013

Show–Tiago Abravanel

Tiago Abravenel detonou em Porto Alegre na sexta passada. Num Araújo Vianna lotado, o over size performer estreiou seu show nacionalmente para uma platéia que acabou aos seus pés.

As luzes se apagam, os músicos entram no palco e um vídeo captado nas ruas de São Paulo (aparentemente), mostra várias faces anônimas revelando seus gostos musicais. E dá de tudo : rock, mpb, sertanejo, pagode, samba, jazz, funk, musica evangélica, dance, eletrônica e tudo o mais.

No final, ouve-se a voz poderosa de Tiago dizendo “E eu sou eclético (ou “gosto de tudo”, não me lembro). Sendo que o nome do show é “Eclético”

Anyway, esta é a deixa para o fofo pular (sim, pular !) para o meio do palco e começar a tocar fogo na noite. Todo de branco (a mesma cor do figurino da banda), com uma agilidade física exemplar e uma voz poderosíssima, Tiago logo arrebata a massa enfileirando um petardo atrás do outro.

Então dá-lhe Tim Maia, Seu Jorge, Chico Buarque, John Lennon, Ivete Sangalo, Sidney Magal, Psy, Funk, Jota Quest, Roberto Carlos, Chitãozinho e Xororó, Beyonce, Alcione, Gabi Amarantos, Elis Regina, Só Prá Contrariar, e muito mais, num mix alucinante e atordoante.

Chorei pelo menos duas vezes. Uma com a interpretação poderosa de “Sorrir” (música do filme “Tempos Modernos” do Charlie Chaplin, com letra de John Turner e Geoffrey Parsons) e outro no dueto entre ele e a Kesia Estácio em “Um dia de domingo”.

Tiago é um show man pronto. Simpático, sensual, cínico, divertido, dramático, irônico, debochado, atrapalhado, seguro e teatral, sua presença de palco é magnética e ele não deixa a peteca cair em ne

nhum momento.

E ele fala muito. De suas influências, da sua carreira, do seu nervosismo, da sua alegria e por aí afora. Sensualiza um monte e joga um bolão com a platéia.

O figurino é um achado. O fino terno branco do início, transforma-se num modelito brega para acabar num uniforme moleque de funkeiro. Isto passando por um visual malandro e até uma coisa traveca. Genial.

 

A iluminação é ótima, mas acho que poderia ser melhor explorada em alguns momentos. Os vídeos projetados sublinham diversas canções, mas confesso que meus olhos seguiam mais a figura do Tiago do que as cenas de fundo.

A banda é perfeita, com um destaque fantástico para os metais. As backings Késia e Suzana, arrebentam nos seus momentos de destaques. Isto sem falar nas coreografias divertidíssimas delas com o Divo.

TiAbrava03-1O show é longo e energético. Uma tour de force para poucos, e o garoto mostra que está com todo o gás para firmar-se como um dos maiores artistas do país.

No final o Araujo transformou-se num bailão, com o povo aos berros e aos pulos acompanhando a pajelança-geléia-geral comandada pelo feiticeiro.

Não teve como não se render. Diversão e emoção total numa noite inesquecível.

Salve Tiago

Tuesday, June 04, 2013

Teatro–A Beira do Abismo me Cresceram Asas

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Uma peça simples, delicada e  feminina.  Leve e com um evidente toque carinhoso, “À beira do abismo me cresceram asas” (com texto, co-direção e atuação de Maite Proença -  juntamente com Clarisse Derzié Luz ), mostra algumas passagens na vida de duas anciãs (Terezinha, 86 anos, e Valdina, 80 anos)  moradoras em numa instituição para idosos.

Ali elas recordam suas vidas, lamentam o abandono, refletem sobre a morte, o tempo, amor, família, divertem-se, riem e choram

Terezinha (Maitê) é mais carrancuda, um tanto amarga e vê o mundo sem muita fantasia. Já Valdina (Clarisse), é mais alegre e transgressora (mas esconde algo do seu passado familiar).

Ambas  sabem que no final das contas, apesar de terem relações familiares (um tanto frouxas) extra instituição, o que têm de concreto é amizade e o companheirismo uma da outra. E assim, sem grandes embates, vão atravessando o cotidiano procurando extrair dele o melhor.

Algumas passagens são particularmente pungentes, especialmente aquela com  Terezinha acompanhando a voz de Piaf em “Je ne regrette rien” e depois com Dalva de Oliveira em “Estão voltando as flores” (uma música que adoro).

O texto oferece algumas pérolas, como quando Terezinha questiona o interlocutor : " O que você vê quando olha pra mim? Uma velha rabugenta e reclamona? Eu não sou o que você está olhando. Eu sou aquilo que está dentro do que você está olhando. E o que eu converso com você vem de lá, eu sou o lado avesso da velha que você vê. Aqui dentro tem um menina de 16 anos, linda, leve, ..." e assim vai.

Ou então quando ela cita Piaf com “A velhice não é para covardes” (uma grande verdade que pode ser estendida à qualquer momento da vida). E também o mistério e o encanto da frase que dá nome ao espetáculo e que pode ser entendida como o encontro da sabedoria com a morte.

As atrizes estão muito bem. O figurino é belíssimo e tudo o mais funciona  (acabei me emocionando – e refletindo  - em vários momentos)

De maneira geral gostei  Não achei nada excepcional, mas vale a pena.

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Crítica de Barbara Heliodora (O Globo)

Retrato encantador de duas mulheres

Com dados colhidos por Fernando Duarte em entrevistas com um grupo de idosos, Maitê Proença armou um tocante diálogo entre duas mulheres que ficam amigas na instituição onde moram e um suposto jovem que as entrevista. Juntas, mesmo que perfeitamente individualizadas, as duas compõem, com suas lembranças de acontecimentos e emoções, um painel da vida de todas as mulheres em sua experiência humana.

Uma mais reflexiva, a outra mais extrovertida, tanto uma quanto outra podem dizer, com verdade, que “À beira do abismo me cresceram asas” — e, por isso, conseguem manter vivas a riqueza interior, as emoções e a imaginação que os outros supõem que a idade lhes tenham matado. O texto, com isso, resulta fluido, ora alegre, ora emotivo, enriquecido pela diversidade das experiências vivida por cada uma das duas amigas, e gostosamente teatral.

Sem imitação da velhice

A montagem em cartaz no Teatro do Leblon é simples e harmoniosa, com um cenário que, mesmo nos lembrando que estamos no teatro, cria o ambiente impessoal mas amistoso, onde duas cadeiras, diante de paredes brancas mas translúcidas, estabelecem o universo em que as duas moram. Os lindos figurinos de Beth Filipecki por certo as ajudam a alçar voo. A luz de Jorginho de Carvalho e a trilha de Alessandro Perssan completam com precisão e delicadeza o ambiente.
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A direção de Clarice Niskier e Maitê Proença, com supervisão de Amir Haddad, é delicadamente simples, guiada pelo amor ao mundo que devia ser criado, profundamente carinhosa, mas sem cair um momento na pieguice, confiante na capacidade das duas intérpretes. Maitê Proença e Clarisse Derzié Luz atual com a harmonia de uma peça de piano a quatro mãos; cada uma tem seus momentos de solo, contraponto uns dos outros, e nos duetos formam um desenho único, harmônico, nos quais as ocasionais e pequenas discórdias só servem para ampliar a amizade.

Evitando qualquer imitação de velhice, mas buscando o peso da experiência, Maitê e Clarisse têm, ambas, atuações de grande encanto, trabalhando com uma cumplicidade que traduz bem o conforto que as duas encontraram nessa reunião de duas experiências de vida diversas, mas de duas mulheres que tiveram, e ainda têm, muito para dar ao mundo em que vivem, mesmo quando esse é necessariamente limitado.


“À beira do abismo me cresceram asas” é um espetáculo de imenso encanto, que fala sobre todos nós com sabedoria e humor.